Na gigantesca biodiversidade da Amazônia, entre tantas plantas, a andiroba se destaca por sua versatilidade, valor econômico, ações terapêuticas, antioxidantes, inseticidas e repelentes, podendo ser utilizada na medicina, na agricultura e na indústria de cosméticos. A densidade, a viscosidade e o poder calorífico do óleo de andiroba também o tornaram uma alternativa para a produção de biodiesel.
Os benefícios sobre o vegetal foram destacados em um artigo científico escrito por pesquisadores do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), e do Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade, (CEABIO), da Universidade Federal do Pará (UFPA), ambos instalados no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. O trabalho teve ainda a contribuição de pesquisadores do Museu Emílio Goeldi e de outras instituições nacionais e internacionais. O documento foi publicado este mês na revista Arabian Jounal of Chemistry.
O objetivo do trabalho foi evidenciar as ações biológicas da espécie, através de uma revisão detalhada de 129 artigos sobre as potencialidades da andiroba, escritos entre os anos 1993 e 2022. Os estudos foram selecionados por títulos, resumos, palavras-chave, e passaram por outros critérios até serem analisados. A proposta do artigo foi relacionar estudos científicos, produzidos ao longo de quase trinta anos. “Achamos importante fazer um levantamento do que foi estudado até hoje sobre a andiroba e quais suas aplicações biotecnológicas. Tivemos que seguir critérios rigorosos, usamos ferramentas específicas que fazem esse levantamento minucioso dos dados sobre o tema, para que pudéssemos divulgar resultados de revistas conceituadas com alta fidedignidade cientifica”, explica Renata Noronha, pesquisadora do CEABIO.
Ação analgésica, antibacteriana, anti-inflamatória e antialérgica – O levantamento enfatiza as contribuições da ciência na identificação de propriedades, de compostos bioativos, da atividade biológica da árvore, e ainda as descobertas até o momento sobre a ação analgésica, antibacteriana, antifúngica, antiparasitária, anti-inflamatória, antialérgica do óleo da flor e da semente de andiroba. “As ações da andiroba já são conhecidas pelo conhecimento popular, todo mundo tem um parente, uma avó, mãe, tia, que conhece os efeitos terapêuticos da andiroba, e muitas vezes colocam aquele algodão com andiroba na garganta pra curar. Então isso já é um indício para o conhecimento científico avançar nos estudos, e como resultado desses estudos a gente tem a comprovação dessas ações”, detalha Luís Adriano Nascimento, vice-coordenador do LOA.
O trabalho publicado destaca ainda os efeitos da andiroba contra a obesidade, no processo de cicatrização, e até contra o câncer. “As pesquisas são dinâmicas, todo dia você tem uma resposta e precisa de mais estudos, é um processo natural, surgem novas metodologias de análises, sofisticação dos equipamentos, e rapidez nos processamentos. O olhar para o futuro é constante, principalmente quando envolve um óleo que é anti-inflamatório, com potencial anticancerígeno, por exemplo. Então essas respostas científicas proporcionam avanços nos estudos, pensar no futuro e em desenvolver produtos promissores que possam salvar vidas ou até mesmo impedir que as pessoas adoeçam”, reforça Renata.
Muito do que se utiliza hoje do vegetal, é resultado ou tem influência das investigações realizadas até o momento, e que mostram possibilidades para aplicações farmacêuticas, medicinais e cosméticas dessa planta. Esses benefícios foram estudados a partir de testes em animais e células, e serviram como indicativos preliminares. “Há estudos que pararam na primeira fase, mas outros apresentaram resultados promissores e com possibilidades de continuar, por isso é necessário realizar mais testes. Para o futuro a gente tem além da possibilidade de confirmar essas atividades biológicas, a perspectiva de utilizar a andiroba impregnada em biomateriais, utilizar a biotecnologia, por exemplo, para preparar curativos, emulsões, géis, e essa já é uma das atividades de pesquisa e inovação que nosso grupo vem fazendo”, acrescenta, Luís Adriano.
Potencial biotecnológico – Os experimentos despertam o interesse de pesquisadores em potencializar as riquezas da andiroba por meio da biotecnologia. Renata Noronha reforça que o levantamento feito deixa claro que a planta tem um potencial biotecnológico em várias áreas, podendo gerar produtos que movimentam bilhões no mundo inteiro. “Já temos uma diversidade de produtos no mercado devido aos relatos da população, e os estudos científicos já realizados asseguram e validam isso, temos cápsulas de medicamentos, repelentes, cosméticos etc. Então, cada pesquisa feita com a andiroba, seja na área química, biológica, física, trouxe respostas fundamentais para o desenvolvimento de produtos, e para a população ao longo desses anos”.
O PCT Guamá – O PCT Guamá é uma iniciativa do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet), que conta com a parceria da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e gestão da Fundação Guamá.
É o primeiro parque tecnológico a entrar em operação na região Norte do Brasil e tem como principal objetivo estimular a pesquisa aplicada e o empreendedorismo inovador e sustentável.
Situado em uma área de 72 hectares entre os campi das duas universidades, o PCT Guamá conta com mais de 40 empresas residentes (instaladas fisicamente no parque), mais de 60 associados (vinculadas ao parque, mas não fisicamente instaladas), 12 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos, com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (Eetepa) Dr. Celso Malcher, além de atuar como referência para o Centro de Inovação Aces Tapajós (Ciat), em Santarém, oeste do estado.
Membro da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), da Associação Internacional de Parques de Ciência e Áreas de Inovação (IASP), o PCT Guamá faz parte do maior ecossistema de inovação do mundo.