Produzidos a partir de cepas de microrganismos locais, os produtos são focados em hortas, plantações de açaí, pimenta do reino e palma de óleo
No país que lidera o ranking mundial de consumo de agrotóxico em números absolutos, a startup paraense Amazon Agrotech, associada ao Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, vai na contramão e propõe o uso de defensores biológicos na agricultura, feitos a partir de cepas locais de fungos para auxiliar no combate de pragas e doenças em plantações de açaí, pimenta do reino, palma de óleo e hortas.
A startup se insere no setor das AgTechs, empresas que usam uma série de tecnologias para aumentar a produção e eficiência agrícola durante toda a cadeia de valor da agricultura. Um estudo realizado pela Liga Ventures aponta 18 grandes áreas de atuação das AgTechs, dentre as quais: análise laboratorial; bem-estar animal; aquicultura; biotecnologia; hard sciences; bioenergia, análise de dados; inteligência artificial; e-commerce e marketplace; fertilizante, insumos e controle biológico; robótica e automação; sensores e Internet das Coisas (IoT); dentre outras.
Focada na área de fertilizantes, insumos e controle biológico, a Amazon Agrotech uniu a expertise acadêmica e a vontade de empreender. “A startup surgiu na academia, a partir do encontro das engenheiras agrônomas Telma Batista, Gisele Barata e Marcela Rego. Elas tinham vontade de ajudar os produtores que queriam alternativas ao agrotóxico. Então, há 13 anos, elas começaram a desenvolver pesquisas focadas no açaí. Como os resultados foram positivos, surgiu a ideia de escalar a produção”, conta a economista Simone Barata, uma das sócias da startup.
Em fase de tração, a startup já validou a solução no mercado e hoje conta com cerca de vinte clientes ativos na região Norte, distribuídos na região metropolitana de Belém, no interior do estado do Pará e no Amazonas. “Temos capacidade para atender diferentes perfis (pequenos, médios e grandes agricultores). Iniciamos pelos produtores de horta hidropônica e horta tradicional, que é a de chão. Como a plantação hidropônica está muito suscetível às pragas, alguns produtores têm um histórico grande de perda. Fizemos uma validação da nossa solução com esse perfil de cliente e em alguns casos, eles conseguiram reduzir até 50% dos custos com adubação e também, junto com o manejo, conseguiram restabelecer a produção”, informa Simone.
Controle biológico na agricultura
Segundo a Embrapa, a premissa básica do controle biológico é controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitóides, e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias.
Os produtos biológicos podem ser utilizados em culturas como frutas e verduras, grãos, cana de açúcar, entre outros. A vantagem é que, diferente dos agrotóxicos sintéticos, os produtos biológicos não deixam resíduos na produção.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio) apontam que a produção de biodefensores para controle de pragas e doenças agrícolas cresceu mais de 70% no ano de 2018 no Brasil, movimentando R$ 464,5 milhões. Para 2020, a expectativa é que o setor de biológicos fature no mundo US$ 5 bilhões e que em 2025 chegue a US$ 11 bilhões, segundo a consultoria Dunham Trimmer – International Bio Intelligence.
Em uma matéria no portal do Mapa, pesquisadores afirmam que nem todas as pragas e doenças que atingem as lavouras brasileiras podem ser controladas por produtos químicos, por conta da diferença de culturas, solos e clima, fato que tem elevado a busca por soluções customizadas.
“No Brasil, é possível encontrar alguns produtos de controle biológico consolidados no mercado, principalmente de empresas das regiões Sul e Sudeste. Inclusive, essa é uma barreira que encontramos com os nossos clientes, porque como esses produtos são desenvolvidos de acordo com as características das outras regiões, eles não performam de maneira adequada aqui. Então alguns produtores tendem a achar que os produtos biológicos não funcionam bem. Então temos que explicar que a nossa solução possui uma concentração diferente, totalmente adaptada ao nosso clima quente e úmido e fazer testes para ganhar a confiança desse consumidor”, afirma Simone.
Intercâmbio no ecossistema
Em 2019 a startup foi uma das residentes no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, período no qual teve a oportunidade de participar do programa de pré-aceleração da Tudo Sobre Startups, outra iniciativa instalada no parque tecnológico. “O processo foi fundamental para o nosso desenvolvimento e crescimento, identificamos o nosso cliente, o nosso foco e traçamos caminhos para estabelecer parcerias estratégicas. No programa entendemos que não somos uma empresa comum, estamos trabalhando com mudança de paradigma”, avalia Simone.
“Através da parceria com o PCT Guamá e o Tudo Sobre Startups, fomos selecionados para participar de uma edição do processo de pré-aceleração da Darwin, promovido aqui em Belém pelo Sebrae no Pará. A partir disso garantimos a nossa participação no CASE e lá pudemos trocar experiência com diferentes hubs de inovação do Brasil, também tivemos a oportunidade de apresentar um pitch pra um investidor, e só estávamos bem preparados por conta do apoio que recebemos do PCT Guamá, da Bruna Barbosa e da equipe do Sebrae”, complementa.
A Amazon Agrotech também quer auxiliar no fortalecimento da agricultura periurbana na região metropolitana de Belém, através de assessorias e capacitações. “Temos parceria com os produtores do Uriboca, fizemos um dia de campo com capacitações e aplicação dos produtos. Também fizemos uma parceria com a Associação dos Produtores da Gleba Guajará, no Curuçambá. Nós entendemos que se a gente transfere esse tipo de conhecimento, é possível impactar positivamente a região, esses pequenos produtores podem passar a ser fornecedores de frutas e legumes para a merenda escolar, por exemplo”, acrescenta Simone.
Próximos passos
A startup está no processo de certificação de seus produtos, para garantir uma maior participação no mercado e também em processo de prospecção de novas parcerias. “Hoje nós temos produtos à base de fungos, já totalmente validados, e queremos entrar também na área dos insetos, que é uma demanda muito grande aqui, principalmente nas pastagens e plantações de laranja. Estamos no processo de certificação e a ideia é, em um futuro próximo, montar a nossa própria biofábrica, hoje temos uma capacidade instalada para produzir 300 kg/mês, mas a nossa perspectiva é chegar a 1 tonelada e 200 kg/mês, que é o nosso ponto de equilíbrio”, informa Simone.
Para mais informações sobre a startup formada por Telma Batista, Gisele Barata, Marcela Rego, Simone Barata e Thayna Ferreira, escreva para sibarata@yahoo.com.br