No último sábado, dia 22, a comunidade ribeirinha da ilha do Combu recebeu diversos projetos de empreendedorismo de impacto durante a visita final da II edição do Workshop Conexões, que reuniu cerca de 80 participantes os quais se dividiram em grupos, e apresentaram seus projetos e soluções para as comunidades.
A ação foi uma parceria do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá) junto da Agência de Inovação e Tecnologia da UFPA (Universitec), do Barco Hacker e do Time Enactus UFPA, com o apoio institucional da Baanko e Sebrae, e patrocínio da empresa Inteceleri – Tecnologia para Educação. O workshop propôes o mapeamento dos principais problemas que as comunidades enfrentavam e momentos de ação nos quais os grupos levaram suas propostas de soluções para as ilhas.
Experiência
A programação foi conduzida por Georgia Cunha, mestre em Gestão da Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa pela Università Luigi Bocconi de Milão e MBA em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas, e Max Nolan Shen, hacker cultural e um dos criadores da Dervish. O exercício da escuta e do diálogo, além de aspectos da Teoria U foram as principais orientações da facilitação.
‘’ A experiência com as comunidades foi uma troca de conhecimento de ambos os lados, a teoria U, por exemplo, pode ajudar as comunidades a entenderem melhor as suas necessidades, a proposta foi justamente conseguir se abrir da melhor forma tendo esse contato novo com os moradores da ilha, para que coletivamente soluções sejam encontradas’’ comenta Georgia.
As visitas seguiram por várias comunidades, que comentaram sobre as suas principais dificuldades: lixo, falta de acesso à serviços básicos de saúde, transporte, poluição sonora e dificuldade no acesso à água potável. “É complicado toda vez ter que comprar água, sendo que moramos cercados por ela. Quando o barco – que vende água – não passa, ficamos sem ter o que fazer e a solução é cada um ir pedir na casa do seu vizinho’’, destaca Aldelina de Souza, moradora da ilha.
As comunidades, apesar de estarem próximas à área urbana, enfrentam isolamento e exclusão no aspecto da qualidade de vida. Eles falaram sobre outros incômodos pouco conhecidos, como a exposição da imagem e particularidade deles que são rompidas pelos turistas – fotos, vídeos, matérias de má fé entre outros que são divulgadas sem ter a permissão dos ribeirinhos ‘’ Sem contar as vezes que chegam aqui procurando índios: somos uma comunidade ribeirinha e não indígena, a gente precisa sempre ficar rompendo com esses estereótipos que as pessoas tem da gente’’ finaliza a moradora.
Projetos e empreendimentos presentes na expedição implantaram protótipos de seus produtos ou ofereceram oficinas às comunidades, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e iniciar um processo de capacitação para estimular a diversificação da fonte de renda. O projeto Amana Katu, do time Enactus UFPA, implantou um sistema de captação e tratamento de água da chuva compacto, com capacidade de 240 litros e de baixo custo de produção. A Samtec. Jr, empresa júnior do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA, implantou e capacitou um grupo de famílias em compostagem.
A Inteceleri ofereceu oficina de construção de óculos de realidade virtual feito a partir do Miriti; a Miriti Sustentabilidade, de Abaetetuba, deu orientações sobre como fazer embalagens também utilizando a matéria prima. A Jardim da Danu ofereceu uma oficina sobre ecobags; a Intec realizou uma ação de inclusão digital com crianças e adolescentes. A imersão contou ainda com a participação de projetos/empresas como a Karajaz JSA, Terras, Planeta Agro, Ovelha Negra, Sebrae Pará, Icdam, Ver o Fruto, Planta, C&M Polímeros, Salva Dieta, Manioca, Cardume Coworking, Kasa Koentro e Festival Psica, além de um time de colaboradores independentes.
Os tripulantes ainda visitaram o Chocolate do Combú a casa de chocolate da ilha liderada por Dona Nena, que comanda uma produção de chocolate e cacau amazônico 100% orgânico.
Para o presidente do PCT Guamá, Antônio Abelém, que compartilhou da experiência com os ribeirinhos ‘’a realização do workshop conexões tem conseguido dar continuidade nessa efetiva de fazer uma imersão nas ilhas, e isso foi feito diante de uma parceria: o nome conexões traduz a ação que foi feita em conjunto entre as partes da organização para levar soluções a essas comunidades, é necessário mais iniciativas como essa para que de fato a realidade possa ser transformada. ‘’
Em sua primeira edição, realizada em outubro de 2017, o workshop abordou aspectos teóricos sobre empreendedorismo de impacto, financiamento e investimentos, além da apresentação cases locais. Para dar continuidade ao trabalho iniciado, a segunda edição focou na prática, a fim de proporcionar momentos de validação para os negócios e projetos participantes. A ação é um dos 10 eventos contemplados na Chamada de Apoio a Eventos Regionais do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto. A ação contou ainda com o apoio institucional do ICE, Vox Capital e Impact Hub São Paulo.
Texto e foto: Talissa Fernandes – Ascom Universitec