O Centro Regional da Amazônia (CRA) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Belém, sediou nos dias 20 e 21 de novembro o Curso de Introdução ao Mapeamento de Desmatamento com imagens de radar no Google Earth Engine, ministrado pelos analistas do Instituto Socioambiental (ISA), Juan Doblas e Ricardo Abad. O treinamento foi voltado para profissionais do próprio CRA, bem como de instituições parceiras do INPE na Amazônia.
O Google Earth Engine é uma plataforma de monitoramento de ambiente on-line e uso livre, que disponibiliza a nível mundial um modelo digital dinâmico do nosso planeta que é atualizado diariamente. Ele armazena petabytes de dados de satélite e permite que ferramentas de alto desempenho analisem e interpretem essas informações, que podem ser visualizadas em um mapa, desde mudanças da floresta tropical na Amazônia até os recursos hídricos no Congo.
No conteúdo programático noções básicas de monitoramento florestal com radar orbital, introdução ao Google Earth Engine – princípio de funcionamento, código do GEE, exemplos de utilização, e utilização do script SIRAD (Sistema Indicação Radar de Desmatamento) – inicialização, principais funcionalidades, bases de referência, dicas de utilização.
“A plataforma Google Earth Engine permite que em segundos o usuário tenha a imagem de satélite à disposição e, além disso, essa imagem já vem processada e com os parâmetros de visualização ideais para que o usuário possa especificamente enxergar áreas que estão em processo de desmatamento”, explica o coordenador técnico de geoprocessamento do ISA, Juan Doblas.
Segundo Doblas, as imagens utilizadas a partir da plataforma são provenientes do satélite Sentinel-1, que possui um sensor de radar, que “tem uma propriedade de conseguir enxergar através das nuvens e a Agência Espacial Europeia, que é a proprietária desse satélite, incluiu o Brasil dentro de um ciclo de monitoramento que permite ter um recobrimento total no país a cada 12 dias”, conta. Imagens provenientes de satélite Landsat, por exemplo, demoram 16 dias para recobrir o Brasil.
A interpretação de imagens de radar através do Google Earth Engine permite que se monitore áreas que estão sendo pressionadas, seja por garimpo, grilagem, avanço da pecuária, ou seja, áreas que realmente estão em situações consideradas críticas, e que podem ser vistas de forma mais rápida, enxergando o processo de desmatamento e consequentemente, a realização de denúncias aos órgãos fiscalizadores.
“Estamos utilizando essa metodologia desde março e já realizamos oficinas com ICMBio e com órgãos municipais de meio ambiente. Não estamos fazendo um trabalho lucrativo. O que temos feito é repassado a metodologia para quem faz realmente o trabalho de monitoramento, para quem tem que monitorar o território”, esclarece Doblas.
De acordo com o analista de geoprocessamento do ISA, Ricardo Abad, o objetivo a partir desse momento é implementar essa ferramenta em um sistema de monitoramento mensal que se está a desenvolver para a região do Xingu. “Nós desenvolvemos toda uma metodologia e realizamos algumas capacitações com alguns órgãos, mas o nosso foco é ter uma sistemática de todo mês fazer uma varredura na bacia do Xingu para alertar dessas áreas críticas da fronte do desmatamento”, diz Abad.
O Programa Xingu, do ISA, quer contribuir com o ordenamento socioambiental da Bacia do Rio Xingu, considerando a expressiva diversidade socioambiental que a caracteriza e a importância do corredor de áreas protegidas de 28 milhões de hectares que inclui Terras Indígenas e Unidades de Conservação, ao longo do Rio Xingu. Articulando parcerias e promovendo diálogos intersetoriais, o Programa desenvolve projetos voltados à proteção e sustentabilidade dos 26 povos indígenas e das populações ribeirinhas que habitam a região, à viabilização da agricultura familiar, à adequação ambiental da produção agropecuária e à proteção dos recursos hídricos.
Segundo a coordenadora do Projeto de Capacitação em Monitoramento de Florestas por Satélite (Capacitree), Alessandra Gomes, “a ideia do CRA, ao facilitar essa capacitação junto ao ISA, foi apresentar aos técnicos que trabalham no INPE uma nova ferramenta e diferentes metodologias de mapeamento e monitoramento de uso e cobertura da terra. Como havia vagas disponíveis, algumas instituições parceiras foram convidadas para aproveitar o conhecimento que estava sendo repassado”.
Participaram da capacitação em Belém, além de profissionais do CRA – bolsistas, pesquisadores e analistas em geoprocessamento, técnicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PA) e do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam).
Texto e foto: Julio Delgado – Ascom CRA Inpe