Startups: Pará é reduto do empreendedorismo criativo

Uma ideia inovadora, determinação e arrojo. Junte a isso criatividade e um bom plano de negócios e você pode iniciar a sua própria startup. Não imagina o que seja isso? Pois saiba que você provavelmente já usou algum serviço oferecido por esse tipo de negócio, que se torna cada vez mais comum na economia brasileira. Aquele aplicativo que ajuda a pedir a pizza do fim de semana, o site que compara rapidamente preços de um mesmo produto e um sistema para organizar as finanças de uma empresa são cases de sucesso desse nicho.

O Pará é um dos poucos estados brasileiros a criar um ambiente favorável ao surgimento de startups. No Espaço Inovação, que fica no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, os donos dos negócios fazem coworking, isto é, trabalham compartilhando o mesmo espaço e recursos do escritório. A convivência ajuda no surgimento de ideias e cria um ambiente propício à criação. As divisórias da velha repartição deixam de existir. No lugar delas, surgem paredes com adesivos que dizem “Aqui existe inspiração”. É a arquitetura da criatividade.

O apoio governamental no surgimento do empreendedorismo criativo ganhará força com a regulamentação da Lei Estadual de Inovação, aprovada em outubro do ano passado pela Assembleia Legislativa, cuja minuta está em fase de preparação pela Procuradoria Geral do Estado (PGE). Depois de regulamentada, a legislação permitirá ao Estado financiar, por subvenção econômica, startups. O suporte será essencial para que muitos negócios deslanchem.

“Além de tudo isso, vamos firmar convênio com a Rede Namor para fortalecer os Núcleos de Inovação Tecnológica das instituições de ensino superior do Pará, já que a maioria das startups surge no meio acadêmico”, diz o titular da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet), Alex Fiúza de Mello. Outro investimento é a abertura, até dezembro, do segundo prédio do Espaço Inovação, no PCT Guamá, dedicado exclusivamente às startups.

Solução

A preparação desse ambiente que favorece a gênese de startups tem o apoio de parceiros do governo do Estado. Um deles é o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (Sebrae), que, até o fim do ano, vai abrir o Sebrae Lab, espaço de coworking onde os empreendedores criativos poderão se reunir, fazer negócios e receber orientações. Hoje o Sebrae já oferece consultoria a esse empreendedor e mantém na internet o site Sebrae Like a Boss, com conteúdos exclusivos e especializados para esse tipo de empresa.

As startups de destaque são aquelas que oferecem uma solução inovadora para o mercado e resolvem um problema que, em geral, aflige muita gente. Elas nascem de empreendedores que tiveram sacadas inusitadas e vislumbraram oportunidades em mercados pouco explorados. A maioria começa pequena, mas a possibilidade de crescer se torna grande. É tudo uma questão de ser criativo, persistir e planejar. O aplicativo americano Uber, que começou como startup, hoje é uma empresa avaliada em US$ 68 bilhões.

“Qualquer pessoa pode abrir uma startup. Basta ter uma ideia inovadora e simples, que solucione um problema coletivo, e não ter medo de sair da zona de conforto. Além disso, esse tipo de negócio precisa ser escalável, ou seja, manter níveis de crescimento, e repetível, isto é, oferecer sempre o produto ou serviço que propôs originalmente”, explica o gerente de Soluções e Inovação do Sebrae Pará, Péricles Diniz. Também é importante ter um investidor e um mentor, que podem garantir o sucesso do negócio com aporte financeiro.

As empresas iniciantes, como também são conhecidas as startups, ainda são um tipo de negócio novo no Brasil, mas, promissor e crescente, sobretudo em um momento de crise econômica, quando se usa mais a criatividade. Segundo a ABStartups, entidade que promove o ecossistema brasileiro de empresas em estágio inicial desde 2011, existem cerca de cinco mil em todo o país, nos mais diversos segmentos econômicos. “Esse empreendedor em geral é jovem, determinado e um ferrenho defensor de ideias. É alguém que vivenciou uma dificuldade e pensou numa maneira de superá-la”, diz o gerente.

Entre os mercados mais explorados pelas startups brasileiras, os aplicativos são campeões, com 216 empreendimentos. Em segundo lugar está o segmento de educação, seguido pelas áreas de mídia, comércio eletrônico e entretenimento. Segundo a ABStartups, a maioria das empresas aposta em oferecer produtos e serviços para outras empresas.

Moradia

No Espaço Inovação o empreendedor José Arninton Batista, 43 anos, desenvolve um projeto que pode ser a solução para o problema das cheias de rios como Amazonas e Tocantins, que anualmente desalojam – e colocam em risco – milhares de pessoas no Pará. A ideia é simples: ele imaginou uma casa que flutue sempre que uma enchente ocorra. Um intrincado sistema faz o imóvel subir junto com o leito do rio. Resultado: as famílias que vivem em áreas sujeitas a esse fenômeno da natureza nunca mais seriam atingidas.

A Casa Várzea, como foi batizada a ideia, tem outras vantagens: será construída com madeira biossintética, fabricada a partir de garrafas pet – e com a capacidade de suportar até cinco toneladas por metro quadrado –, terá microssistemas de tratamento de água e esgoto e usará energia solar. Será dotada ainda de sensores que vão mensurar o PH (potencial hidrogênico) da água e medir, em tempo real, o nível de cheia do rio. E mais: as casas vizinhas estarão interligadas por um sinal de internet. Apesar de tanta tecnologia envolvida, o inventor garante que o projeto é altamente viável, pois cada unidade teria o custo de R$ 75 mil.

“Essa casa é um projeto de alto impacto, que vai mudar a vida das populações que hoje sofrem com as cheias dos rios no Pará”, diz José Arninton, dono da startup Várzea Engenharia. Natural de Juruti, no oeste paraense, o empreendedor cresceu com o problema. “Eu estudava seis meses e ficava outros seis parado porque a escola ia para o fundo”, lembra. Já adulto e morando em Belém, ele começou a trabalhar como cinegrafista. Um dia decidiu mudar radicalmente. Fez vestibular para Engenharia Civil, passou e começou a desenvolver o projeto que será tema do seu trabalho de conclusão de curso.

“O Espaço Inovação me dá todo o suporte necessário para que eu desenvolva meu projeto. Faço pesquisas constantes para aprimorá-lo e torná-lo viável. Aqui tenho toda a estrutura, de internet banda larga ao cafezinho, da consultoria ao ambiente criativo, de laboratórios ao networking qualificado. Sem dúvida, sem esse suporte, a Casa Várzea seria apenas uma ideia na cabeça”, reconhece José Arninton, que pretende construir o protótipo do imóvel no canal Tucunduba, em frente à Universidade Federal do Pará (UFPA).

Serviço:
O Espaço Inovação foi inaugurado pelo governo em junho de 2016. É um ambiente de estímulo ao empreendedorismo inovador, que aproxima pesquisadores, acadêmicos e empresários de diferentes setores. A ocupação dos módulos se dá por edital. Podem participar pessoas jurídicas, regularmente constituídas há no mínimo dois anos, e pessoas físicas que apresentem projetos de startups. A íntegra do edital e dos anexos está disponível no site do parque tecnológico (www.pctguama.org.br). Mais informações pelo telefone (91) 3321-8900.

Por Luiz Carlos Santos – Agência Pará

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