Estudo de compostos bioativos fornece ciência e inovação ao mercado

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O Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia desenvolve pesquisas nas áreas de alimentos, farmacêutica, biotecnologia e cosmética

Por Carol Menezes (Secom)
Fotos: Alex Ribeiro/Ag. Pará

As pesquisas buscam por matérias-primas que sejam valorizadas de forma sustentável e ricas em compostos bioativos

Referência no desenvolvimento de processos e produtos, bem como no controle de qualidade de materiais de origem vegetal para as áreas de alimentos, farmacêutica, biotecnologia e cosmética, entre outras, o Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA) é um dos laboratórios da Universidade Federal do Pará (UFPA) instalados no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém, que contam com investimentos do governo do Estado durante todo o ano.

Nesta segunda matéria da série dedicada ao mês nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação, o destaque é a importância da estrutura que em breve abrigará também o primeiro Laboratório de Análise Sensorial do Norte do Brasil – atualmente só há um na Bahia em funcionamento.

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O CVACBA colabora com diversas unidades de referência, como universidades, centros de pesquisa, de atuação técnica e de extensão locais e nacionais. De acordo com o coordenador do Laboratório, Hervé Rogez, o que move as atividades são os principais setores de interesse da bioeconomia: alimentar, cosmético e fármaco/nutracêutico. “Neste contexto, observamos uma busca por produtos para inovar. Há 25 anos redescobrimos o açaí para além do que já sabíamos. Constatamos sua grande quantidade de antioxidantes, fibras e o fator energético que trouxe aquele boom de exportação, ancorado sempre ao valor nutricional que vinculamos”, lembra o professor.

As pesquisas visam à busca por matérias-primas que sejam valorizadas de forma sustentável e ricas

Coordenador do Laboratório, Hervé Rogez

em compostos bioativos. “A gente faz um screening (triagem) desses compostos para saber quais são promissores para o futuro. Folhas de árvores têm sido apontadas como ricas nesses conteúdos. Temos contrato com uma empresa de cosmético, que já em escala piloto trabalha a valorização da folha de ingá em cremes antienvelhecimento”, detalha Hervé Rogez.

Embora tenha no governo do Estado um de seus mais importantes investidores, a vida útil do Centro também é relacionada a parcerias com laboratórios e indústrias, justamente por causa da bioeconomia. “Sem o elo entre os dois não tem como. É o que puxa o que é factível para o mercado. A gente parte das demandas do mercado para chegar às análises. É um círculo virtuoso. A demanda quem melhor sente é a indústria”, confirma o coordenador, que tem formação nas áreas de Engenharia Biológica e Biotecnologia.

Estrutura – Há 25 anos atuando na UFPA, Hervé Rogez criou o Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia ainda na Universidade há 12 anos, e tão logo soube que o PCT estava em fase de concepção, há mais de uma década, se transformou em um grande entusiasta da iniciativa. “Quando se cogitou a criação do Parque eu já comecei a participar das discussões. O ambiente da universidade pública possui muita burocracia por causa da legislação federal, e aqui, no PCT, a gente consegue se reunir com o setor empresarial e já assinar um contrato de prestação de serviços. As tramitações dentro da Universidade tornariam tudo muito mais difícil”, admite. Hoje, o CVACBA é um dos maiores laboratórios do PCT, contando com sete professores, 15 pós-graduandos e cerca de 30 graduandos em projetos de iniciação científica.

Cada unidade tem uma atribuição específica: nas competências analíticas estão itens que depois serão informados nos rótulos dos produtos; no de análises microbiológicas são feitos os estudos relacionados às questões de saúde pública; na análise bioquímica e de biologia molecular ocorrem as análises mais finas – uma fase do processo extremamente demandado pela indústria, porque se refere às temperaturas de conservação, tempo de duração etc. “Não é uma receita de bolo. Cada produto exige um tratamento”, afirma o pesquisador.

Em novembro deve ser inaugurada a unidade de análise sensorial, que será extremamente importante para a cadeia produtiva do cacau paraense.

Açaí – Ainda há frentes de trabalho em andamento relacionadas à análise do açaí. “Descobrimos que o fruto possui probióticos muito interessantes para a saúde humana, especificamente para a saúde do cólon, que depois do fígado é o órgão mais importante, pois ajuda a manter a resistência para tudo, inclusive para combater a Covid-19. Há também estudos relacionados ao alívio dos efeitos colaterais do tratamento de Parkinson, feito inteiramente de medicamentos não naturais. Teríamos realizado os testes em voluntários em março, mas a pandemia adiou tudo para o ano que vem”, informa o coordenador.

Na área das tecnologias inovadoras há um trabalho relacionado à valorização do caroço do açaí, por meio de bioprocesso que possa consumir tudo e garantir que não haja descarte. Uma startup, que já ganhou premiação internacional, desenvolve um biofilme comestível que pode conservar um tomate, por exemplo, que estragaria em quatro dias, por três semanas sem oxidação.

Quanto maior a articulação entre os poderes estadual e federal, e a parceria da iniciativa privada, maior será a produtividade do CVACBA no futuro. “Esse tripé da inovação é muito mais produtivo quando a articulação é maior, para que os custos de investimento sejam melhor divididos. Temos que pensar soluções compatíveis com o tamanho da Amazônia, e que agreguem valor onde estão”, defende Hervé Rogez.

Biotecnologia – Giulia Lima, mestranda em Biotecnologia, participa de uma frente de trabalho

Giulia Lima, mestranda em Biotecnologia

voltada à cacauicultura. “As amêndoas cultivadas aqui são de qualidade muito boa, premiadas fora do Brasil. Embora seja uma planta de terra firme, é só no Pará que tem também o cacau de várzea, no Combu (ilha pertencente a Belém), e em Mocajuba (município do Baixo Tocantins), de gosto e propriedades muito diferentes. Se fôssemos um país teríamos o melhor cacau do mundo”, avalia a pesquisadora.

Na frente de trabalho é feita a pesquisa de caracterização das amêndoas a partir da composição físico-química, das características de sabor, para saber qual é mais apropriada a chocolates finos, diferenciados. “E instalado o Laboratório de Análise Sensorial, poderemos certificar a qualidade das amêndoas, tanto na questão comercial quanto da legislação – fermentação, tamanho, forma etc. Isso é muito importante. Vai estimular produtores a produzir com maior qualidade. É uma forma de valorizar”, garante Giulia Lima.

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